Sangue é coisa de mulher, por Jarid Arraes, Ep. 7
116.
No breu dessa madrugada
Pelo álcool dominado
Seu João não enxergava
Tanto tinha se alterado
Só dizia que a queria
Que com ela casaria
Até de papel passado.
117.
“Quantos anos você tem
Faz favor de responder
Se bem que ainda é nova
Já que ia se inscrever
Na escola pra estudar
Pros estudos terminar
Inda tem é que crescer.”
118.
Em seguida emendava:
“Eu também não estudei
Então você tem idade
Pra tudo que planejei
Vamos fazer o casório
Na cidade tem cartório
Eu até já me informei”.
119.
Enedina não sabia
Se podia se casar
Mas nem morta ela queria
Com esse velho se juntar
Tinha nojo dele inteiro
Da sua cara e do seu cheiro
Preferia é se matar!
120.
Pois agora era tarde
E o velho lhe queria
Pra fugir daquele homem
Qualquer coisa ela faria
Foi no quente do terror
Que ela disse com horror:
“Até mesmo eu mataria”.
121.
Precisou de algum tempo
Para se recuperar
Do que tinha ali falado
Sem sequer muito pensar
Foi a forte afirmação
Que lhe deu convicção
Para o velho enfrentar.
122.
Mas João estava fraco
Já caído pelo chão
O chicote do seu lado
Todo solto de sua mão
Então lhe faltava pouco
Pra dar fim nesse sufoco
Que amargava o coração.
123.
Enedina vacilou
Mas do seu irmão lembrou
Da maldade que ele fez
E da dor que ele causou
Não podia admitir
Que isso fosse repetir
Esse velho que chegou.
124.
Vendo o velho desmaiado
O chicote então pegou
Amarrando no pescoço
Do João que lhe enganou
Deu um nó bem apertado
E o botou foi pendurado
Feito alguém que se enforcou.
125.
Arrumou ojegue manso
De carroça foi saindo
Na partida pra cidade
Escutou tudo caindo
O telhado foi cedendo
Com a taipa se torcendo
E o velho foi sumindo.
126.
“Sangue é coisa de mulher
E mulher é bicho triste”
Repetiu pela lembrança
Do que na verdade existe
“O vermelho que escorre
Não é coisa de quem morre
Mas de quem na vida insiste”.
O folhetim Sangue é coisa de mulher foi escrito por Jarid Arraes. Nascida em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), em 12 de Fevereiro de 1991, Jarid é escritora, cordelista, poeta e autora do premiado “Redemoinho em dia quente“, vencedor do APCA de Literatura na Categoria Contos, do Prêmio Biblioteca Nacional e finalista do Prêmio Jabuti. Jarid também é autora dos livros “Um buraco com meu nome“, “As Lendas de Dandara” e “Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis“. Atualmente vive em São Paulo (SP), onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres e tem mais de 70 títulos publicados em Literatura de Cordel.
1º episódio: Episódio 1
2º episódio: Episódio 2
3º episódio: Episódio 3
4º episódio: Episódio 4
5 episódio: Episódio 5
6º episódio: Episódio 6
Revisão: Tatiane Ivo